Isto não é propriamente um blogue. É apenas um espaço para expandir trabalhos que, pela sua dimensão, tornem fastidiosa a sua leitura no Memórias.

quarta-feira, 11 de março de 2009

11 de Março

Não conheço o autor nem a fonte, pelo que me é impossível apresentar devida referência, mas parece-me uma boa descrição cronológica dos acontecimentos do dia 11 de Março de 1975. Acontece que, nesse dia, encontrava-me no Regimento de Infantaria n.º 6, no Porto, onde me especializava na arte da condução auto, e a meio da manhã fui guarnecer um posto de sentinela junto do parque das viaturas, armado com uma espingarda automática G3. Ainda hoje estou à espera que me digam qual era a minha missão ali, mas cumpri-a cabalmente. Por ali, posso garantir, eles não passaram.
Das pessoas que integram a lista, ao fundo, conheci (e conheço) algumas. As consequências também foram bem perceptíveis. A nacionalização da banca, a resistência do Norte (MDLP) e, finalmente, o 25 de Novembro. De resto, para mim resulta tudo ainda muito confuso...
Este texto apareceu-me na caixa de correio electrónico casualmente e guardei-o especialmente para esta data.

HÁ 30 (+5) ANOS


Portugal entrou no período gonçalvista e de deriva pré-totalitária do célebre PREC. A má notícia é que o país pagou durante muitos anos os disparates feitos ente 11 de Março e 25 de Novembro de 1975. A boa notícia é que a liberdade e a democracia ganharam.
Cronologia dos acontecimentos.

I — DESCRIÇÃO CRONOLÓGICA DOS ACONTECIMENTOS
MARÇO DIA 8
17:00 — Praça das Flores — Através de contactos efectuados principalmente por Miguel V.S. Champalimaud e tenente Nuno Barbieri reúnem-se vários indivíduos, entre outros, coronel Durval de Almeida, José Maria Vilar Gomes, João Alarcão Carvalho Branco, José Carlos V.S. Champalimaud, tenente Nuno Barbieri e Miguel V.S. Champalimaud tendo estes dois últimos dito aos restantes que estava planeada uma operação de grupos de extrema-esquerda, denominada "Matança da Páscoa", na qual seriam mortos cerca de 1500 civis e militares entre os quais o general Spínola.
Seria necessário assim desencadear uma acção para neutralizar essa operação e que seria necessário também acompanhar o general para Tancos donde se desencadearia toda a acção.
MARÇO DIA 9
22:00 — Praça das Flores — Reúnem-se novamente alguns dos Indivíduos mencionados anteriormente, com outros aguardando neste local instruções para seguirem para Tancos.
Rua Jaú - Alcântara - Ao mesmo tempo desenrola-se uma reunião de militares, entre os quais o general Tavares Monteiro, coronel Durval de Almeida, tenente-coronel Xavier de Brito, tenente-coronel Quintanilha de Araújo, major Silva Marques, tenente Nuno Barbieri e tenente Carlos Rolo onde este confirma a "Matança da Páscoa" por notícias colhidas em Espanha, nos Serviços de Seguridad Espanhola, donde chegara naquele momento. Estes elementos decidem dar conhecimento e alertar o general Spínola dirigindo-se para Massamá.
MARÇO DIA 10
00:00 — Rua Jaú – Alcântara — Entretanto, por ordem do tenente Nuno Barbieri, o alferes Jorge de Oliveira dirige-se à Praça das Flores onde indica aos presentes que se devem dirigir para a Rua Jaú onde se encontram com outros indivíduos, já contactados: José Maria Vilar Gomes, Miguel Champalimaud, António Simões de Almeida, João Alarcão de Carvalho Branco, José Carlos Champalimaud, António Ribeiro da Cunha, Gonçalo Bettencourt C. Ávila, Eurico José Vilar Gomes que permaneçam neste local até lhes serem indicadas missões concretas.
02:15 — Massamá — Chegam à residência do general Spínola o general Tavares Monteiro, coronel Durval de Almeida, tenente-coronel Xavier de Brito e tenente-coronel Quintanilha onde falam com o general Spínola, a quem comunicam o que sabem. É-Ihes por este, respondido já ter conhecimento dos factos através dos Serviços Secretos Franceses. Entretanto o tenente Nuno Barbieri, tenente Carlos Rolo e major Silva Marques planeiam o ataque ao emissor do Rádio Clube Português em Porto Alto.
Depois destes contactos o general Tavares Monteiro e o coronel Durval de Almeida dirigem-se para as traseiras da Igreja de S. João de Deus onde se encontram com o tenente Nuno Barbieri que entretanto fora à Rua Jaú trazendo consigo António Ribeiro da Cunha, José Maria Vilar Gomes e Miguel Champalimaud que passam a fazer escolta armada àqueles três oficiais nos diversos contactos que fazem em seguida.
10,30 — Lumiar — General Tavares Monteiro, coronel Durval de Almeida, tenente Nuno Barbieri e os indivíduos que compõem a sua escolta dirigem-se para casa do major Sá Nogueira, no Lumiar, onde almoçam e donde fazem contactos nomeadamente com o comandante Alpoim Calvão e comandante Rebordão de Brito.
15,00 — Aeroporto — Dirigem-se ao Aeroporto o general Tavares Monteiro, coronel Durval de Almeida e José Maria Vilar Gomes onde se encontram com o tenente-coronel Xavier de Brito e tenente-coronel Quintanilha que vinham de fazer vários contactos com Unidades. Daqui seguem novamente para o Lumiar onde vão chegando mais indivíduos como o comandante Calvão, major Silva Marques, tenente Anaia e tenente Carlos Rolo. Nesta reunião é feito o ponto da situação avaliando-se as forças que estão do lado dos revoltosos e meios disponíveis. Definidas as missões de cada um, os presentes vão abandonando o local ficando combinado o encontro de todos eles e do grupo de civis que se encontravam ainda na Rua Jaú, na portagem da Auto-Estrada de Vila Franca de Xira, onde esperariam pela chegada do general Spínola, seguindo daí para Tancos.
21:30 — Massamá — Fazendo-se transportar num Mercedes alugado, o general Spínola dirige-se, para a portagem da A. E. de Vila Franca de Xira, acompanhado de uma escolta composta por civis armados.
22:00 — Portagem da A. E. — O general Spínola, e seus acompanhantes, partem com destino a Tancos.
22:30 — O brigadeiro Morais, comandante da Região Militar de Tomar, desloca-se a Santarém e procura o coronel Alves Morgado, comandante da E.P.C., tentando aliciá-lo. Não conseguindo a adesão pretendida, insiste, através de um contacto telefónico, cerca de 3 quartos de hora mais tarde. O novo encontro tem lugar junto do café Central. Esta tentativa não logrou melhor êxito, mas o coronel Morgado não denuncia as intenções dos revolucionários. Terceira insistência é tentada na manhã seguinte, através de um enviado do brigadeiro Morais - o capitão Veloso e Matos.
23:00 — No Restaurante "Fateixa", em Carcavelos, o tenente-coronel Xavier de Brito encontra-se com o tenente-coronel Almeida Bruno que, para o efeito, convocou o major Monge e capitão Luz Varela. O objectivo deste encontro foi tentar aliciar o tenente-coronel Bruno e o major Monge.
23:30 — Tancos — Chega à unidade o general Spínola, acompanhado do tenente-coronel Carlos António Quintanilha Reis de Araújo, major Jaime Tomás Zuquete da Fonseca, e 1°Tenente Carlos Alberto Juzarte Rolo que se dirigem a casa (Bairro Militar) do major António Martins Rodrigues. Após alguns momentos, chegam ao mesmo local o brigadeiro Francisco José de Morais, general Tavares Monteiro, coronel Orlando Amaral, comandante Calvão, coronel Durão, coronel Durval, coronel Moura dos Santos, general Damião, tenente-coronel Xavier de Brito, major Simas, major Garoupa e outros.
MARÇO DIA 11
00:00 — Tancos — Começam a chegar à B.A.3 mais elementos conspiradores que se reúnem em casa do major Martins Rodrigues.
01:40 — É montado um sistema de segurança da Unidade e é regulada a entrada de elementos vários que entretanto chegavam e cujas viaturas não eram revistadas.
02:00 — Com a presença dos principais responsáveis pelo golpe, é feito o ponto da situação e o planeamento das operações a desencadear durante a manhã.
02:30 — O comandante da Base, coronel Moura dos Santos, e o coronel Orlando Amaral contactam telefonicamente o coronel Proença no Comando da 1.a Região Aérea, tendo lugar em seguida e ainda em casa do major Martins Rodrigues uma reunião na qual se ultimam os pormenores do golpe a desencadear.
08:00 — O coronel Moura dos Santos reúne alguns oficiais e sargentos da unidade, aos quais dá conhecimento do que se vai desenrolar. Simultaneamente o mesmo é feito por alguns oficiais, comandantes de esquadra, major Mira Godinho, major Neto Portugal, e capitão Brogueira em relação aos pilotos das suas esquadras, atribuindo-lhes em seguida as missões respectivas.
09:00 — São feitos "breefings" ao pessoal. Com a presença do coronel Moura dos Santos, major Zuquete, major Mesquita, major Mira Godinho, major Neto Portugal e outros, o general Spínola faz uma alocução aos pilotos dos helicópteros e dos T-6, em que se afirma estar a assistir-se à prostituição das Forças Armadas e ser necessário intervir para manter a continuidade e a pureza do processo desencadeado no 25 de Abril.
Os meios aéreos destinados a atacar o R.A.L.1, aviões T-6, helicópteros e helicanhões começam a ser municiados.
09:40 — Montijo — Por ordem do comandante da B.A.6, coronel Moura de Carvalho são postos de alerta todos os meios aéreos, os aviões Fiat G91 e helicópteros Alouette III, enquanto se tomam medidas para defesa imediata da Unidade, utilizando a companhia de Polícia Aérea conjuntamente com a companhia nº 122 de Pára-quedistas comandada pelo capitão Terras Marques, que se encontrava estacionada na B.A.6.
10:45 — Tancos — Começam a descolar os primeiros meios aéreos destinados a atacar o R.A.L.1. Estes meios eram constituídos por:
- 2 T-6 armados com metralhadoras e ninhos de foguetes anti-pessoal, pilotados pelo major Neto Portugal e segundo-sargento Moreira, tendo como missão o bombardeamento das instalações do R. A. L. 1, antenas da R. T. P. e Forte do Alto do Duque.
- 10 Allouette III, transportando um grupo de 40 pára-quedistas. Dois dos helicópteros estão armados com canhão e têm como missão o bombardeamento do R.A.L.1. São pilotados pelos major Zuquete e major Mira Godinho, tendo aos canhões os alferes Oliveira e primeiro-cabo Carapeta, respectivamente.
Nesta operação insere-se também o lançamento sobre Lisboa de panfletos, missão que é executada por dois dos heli-transportadores, pilotados pelos capitão Oliveira e tenente Jacinto. Os restantes heli-transportadores são pilotados pelos alferes Chinita, alferes Afonso, alferes Mendonça, segundo-sargento Ladeira, segundo-sargento Souto e furriel Emaúz.
- 3 Noratlas com 120 pára-quedistas destinados a cercar o R.A.L.1.
- 2 T-6 desarmados, com missão de intimidação. São pilotados pelo capitão Faria e alferes Melo, ambos da B.A.7 e em diligência na B.A.3.
11:00 — Monte Real — O comandante da B.A.5, coronel Naia Velhinho, na sequência de uma indicação que lhe é transmitida de Lisboa por via normal, coloca essa base em estado de prevenção rigorosa. Dessa situação decorreu a manutenção em alerta dos aviões a jacto F-86F, armados com metralhadoras.
11:15 — Montijo — A B.A.6 entra de prevenção rigorosa.
11:20 — Tancos — Descola, com destino a Monte Real (B.A.5) um avião Aviocar pilotado pelo major Mesquita levando a bordo o coronel Orlando Amaral, na situação de reserva e tenente-coronel Quintanilha, adjunto do Chefe da 2.a Repartição do E.M.F.A., em missão de aliciamento.
11:30 — Monte Real — Aterra o avião Aviocar vindo de Tancos (B.A.3), o qual transporta o coronel Orlando Amaral e o tenente-coronel Quintanilha. Estes vão à presença do comandante da B.A.5 a quem, na presença dos majores Simões e Ayala, anunciam a existência de uma operação comandada superiormente pelo general Spínola e pelo C.E.M.F.A., no caso da Força Aérea, a qual pretende repor a pureza do espírito do 25 de Abril. O tenente-coronel Quintanilha revela que a operação já se terá iniciado com um ataque aéreo ao R.A.L.1 e pede então ao coronel Velhinho que envie aviões F-86F para fazer passagens baixas de intimidação sobre o R.A.L.1, Avenida da Liberdade e COPCON. O comandante da base hesita, telefona para os seus superiores em Lisboa donde não obtém esclarecimentos.
Entretanto o major Simões faz uma sessão de esclarecimento aos pilotos da esquadra dos F-86F, explicando-lhes por sua vez aquilo que ouvira no gabinete do comandante da base. Nessa sessão alguns oficiais manifestam-se abertamente desconfiados e descrentes do que lhes é dito, opondo-se a colaborar naquilo que consideram um golpe da direita.
O coronel Orlando Amaral e o tenente-coronel Quintanilha regressam a Tancos e com estes o major Cóias da B.A.5
11:30 — Todas as Unidades da Força Aérea estão de prevenção rigorosa.
11:45 — Deslocam-se à B.A.3, de helicóptero, o brigadeiro Lemos Ferreira e o tenente-coronel Sacramento Marques, como delegados do C.E.M.F.A. e C.E.M.E., para procurarem esclarecer a situação.
11:50 — R.A.L.1 — Esta Unidade é atacada pelos revolucionários que na sua missão vêm a atingir as casernas dos soldados e os principais edifícios do aquartelamento, resultando na morte do soldado Joaquim Carvalho Luís e 14 feridos. Neste, ataque são consumidas 220 munições de metralhadoras calibre 7,7mm e 99 foguetes Sneb 37mm anti pessoal dos T-6 e 318 munições de MG-151 de 20mm dos helicanhões.
11:50 — Montijo — Aterram dois helicópteros Alouette III, estando um armado. O héli desarmado aterra numa das ruas de acesso à placa, tendo deixado um pára-quedista ferido e cujo piloto, o alferes Chinita, também ferido, vem a ser recuperado pelo héli canhão uns metros mais à frente.
12:00 — Aeroporto de Lisboa — É encerrado o tráfego civil.
12:00 — Quartel do Carmo — Oficiais da G.N.R. no activo e outros já afastados do serviço, comandados pelo general Damião, prendem o comandante-geral e outros oficiais.
12:20 — Tancos — Descolam 3 Allouette, transportando 12 elementos para uma acção armada contra as antenas do R.C.P., em Porto Alto. Um dos helicópteros está armado com canhão e é pilotado pelo segundo-sargento Leitão, tendo ao canhão o segundo-sargento Bernardo de Sousa Holstein. Os outros dois hélis são pilotados pelos alferes Llaurent e segundo-sargento Serra.
12:20 — Montijo — Descolam 5 helicópteros com destino a Tancos (B.A.3) tendo um deles transportado o pára-quedista ferido ao Hospital da Força Aérea no Lumiar e juntando-se aos outros na Chamusca.
12:50 — Lisboa — A 5.a Divisão do E.M.G.F.A. emite a seguinte mensagem a todas as Unidades do Exército, Armada, Força Aérea, G.N.R., P.S.P. e G.F.:
"O COPCON, a Comissão Coordenadora do M.F.A. e a 5.a Divisão do E.M.G.F.A. alertam todas as unidades para se colocarem em estado de mobilização para destruir forças rebeldes contra-revolucionárias que neste momento atacam unidades do M.F.A.."
Este rádio foi seguido de outro semelhante enviado para comandos militares das Ilhas Adjacentes e África.
13:00 — Porto Alto — Um grupo de civis armados e comandados por 2 militares atacam o emissor do Rádio Clube Português, interrompendo a emissão desta estação em onda média.
Os atacantes faziam-se transportar em 2 helicópteros seguindo num o major Silva Marques, António Simões de Almeida, João Alarcão Carvalho Branco e José Carlos Champalimaud e no outro o 1°tenente Nuno Barbieri, José Maria Vilar Gomes, Eurico José Vilar Gomes, António Ribeiro da Cunha e Miguel Champalimaud.
Deste ataque resultou a paralisação da emissão e destruição de material de elevada monta.
O general Spínola tenta aliciar, pelo telefone, o major Jaime Neves, comandante do Batalhão de Comandos nº 11, que lhe responde só obedecer à hierarquia a que está sujeito, o COPCON, com quem aliás já tinha estado em contacto. O general Spínola procura, ainda, falar com o tenente-coronel Almeida Bruno que está presente, mas que se esquiva.
Pouco antes ou depois desta diligência o general Spínola estabelece contacto com o tenente-coronel Ricardo Durão tentando obter por via deste e do capitão Salgueiro Maia, a adesão da E.P.C. O capitão Salgueiro Maia não atende este telefonema.
13:00 — Tancos — descolam 2 aviões T-6, pilotados pelos segundo-sargento Gomes da Silva e furriel Falcão. Estão armados com metralhadoras e ninhos de foguetes anti-pessoal e têm como missão o ataque ao R.A.L.1. A mesma hora descola um Allouette, armado com um canhão, pilotado pelo alferes Jofre, com o alferes Figueiredo ao canhão tendo como missão o ataque ao R.A.L.1. e outros possíveis objectivos.
13:10 — Lisboa — A Emissora Nacional interrompe a sua programação normal e passa a transmitir directamente do Centro de Esclarecimento de Informação Pública da 5.a Divisão do E.M.G.F.A., aconselhando a população de Lisboa a manter-se calma e vigilante em união com o M.F.A. e seus órgãos representativos.
13:20 — O major Rosa Garoupa telefona para o major Casanova Ferreira comandante da P.S.P. de Lisboa, a pedir-lhe a ocupação do Rádio Renascença e que pusesse "no ar" esta Emissora (na altura em greve) com o fim de emitir comunicados dos revolucionários, acções que se não concretizam.
13:22 — Monte Real — Descola a primeira parelha de F-86F, comandada pelo major Ayala, a qual cumpre a missão que fora pedida ao coronel Velhinho, sendo alvejada no COPCON.
13:30 — Lisboa — É transmitido pela E.N. o primeiro comunicado da 5.a DDivisão.
13:30 — Tancos — Descola um helicóptero Allouette III a fim de transportar o brigadeiro Morais, de Tomar para a E.P.C. e no regresso transporta, além deste, o tenente-coronel Ricardo Durão e o capitão Salgueiro Maia. Aterram 5 helicópteros Allouette Ill vindos da B.A.6
13:30 — Uma força da G.N.R. constituída por 5 moto-blindados aparece nas imediações do G.D.A.C.I., tentando ocupar e desligar a antena da R.T.P. em Monsanto. Foram interpelados e intimados a retirar por forças do COPCON o que fizeram imediatamente.
14:00 — Monte Real — descola a segunda parelha de F-86F, comandada pelo capitão Calhau, o qual acabará por sobrevoar os mesmos pontos de Lisboa da primeira e ainda a estrada Santarém-Lisboa. A ambas as parelhas foi dada ordem de não abrir fogo.
13:50 — Tancos — Descola um helicóptero Allouette III, pilotado pelo tenente-coronel Quintanilha o qual se desloca com o major Cóias à B.A.5, seguido por dois aviões Aviocar transportando pára-quedistas.
Aí tenta garantir a neutralidade da base, ameaçando, inclusivamente, que os pára-quedistas a ocupariam. Em seguida, quando alguns sargentos, alertados por camaradas de Lisboa, tentam prender o tenente-coronel Quintanilha, este evade-se no helicóptero acompanhado pelos Aviocar com pára-quedistas que, entretanto, se tinham mantido sobrevoando a base de Monte Real. As três aeronaves regressam então a Tancos.
14:30 — Tancos — Descolam para Lisboa 2 aviões T-6, armados com metralhadoras e ninhos de foguetes anti-pessoal, pilotados pelo segundo-sargento Jordão e segundo-sargento Carvalho, tendo a missão de ataque a objectivos não apurados. A mesma hora, descolam 2 aviões Noratlas, transportando uma companhia de tropas pára-quedistas (75 homens) para Lisboa, para reforço da companhia anterior. Ainda à mesma hora, descolam 2 aviões Aviocar, transportando 25 homens (pára-quedistas) para a B.A.5
14:45 — É transmitido o primeiro comunicado emanado do Gabinete do Primeiro-Ministro do seguinte teor:
"Esclarece-se a população terem-se verificado hoje, de manhã, incidentes envolvendo forças militares reaccionárias em tentativa desesperada de travar o processo revolucionário Iniciado a 25 de Abril. Tais incidentes consistiram numa tentativa de ocupação do R.A.L.1, envolvendo meios aéreos e terrestres. A situação encontra-se sob controle, pelo que se apela para que a população se mantenha calma, sem abrandar contudo a sua vigilância. A aliança entre o Povo e as Forças Armadas demonstrará, agora como sempre, que a revolução é irreversível".
15:00 — Tancos — Descola um Allouette III, armado com canhão, tendo como missão o ataque às antenas da Emissora Nacional. É pilotado pelo segundo-sargento Souto e Silva e leva ao canhão o capitão Jordão. A mesma hora, descolam 2 T-6, desarmados, pilotados pelo alferes Melo e alferes Correia, com a missão de intimidação.
15:00 — Tancos — Soldados e sargentos da B.A.3 amotinam-se contra os conspiradores e arrombam as viaturas civis utilizadas pelos elementos estranhos donde retiram armamento.
15:15 — A grande maioria dos pára-quedistas que atacaram o R.A.L.1 depõem as armas e juntam-se aos militares desta Unidade. O brigadeiro Otelo Saraiva de Carvalho dá conta ao País da normalização da situação.
15:30 — Tancos — Descola um Allouette III a fim de transportar o capitão Ramos à E.P.C., Batalhão de Comandos e COPCON, não executando estas duas últimas missões.
A mesma hora, descolam 2 aviões T-6, armados com metralhadoras e ninhos de foguetes anti-pessoal, para ataque a objectivos não identificados. São pilotados pelo segundo-sargento Brandão e pelo furriel Bragança.
Ainda à mesma hora, descolam 2 Allouette III, um transportando para o Regimento de Caçadores Pára-quedistas o general Spínola e alguns elementos e outro armado com canhão para protecção daquele oficial durante a sua permanência naquela unidade. São pilotados pelo major Zuquete e major Godinho respectivamente.
16:20 — Tancos — Descolam 4 Allouette III um equipado com canhão, que faz a protecção dos restantes e nos quais alguns militares efectuam a evasão.
17:15 — O primeiro-ministro, brigadeiro Vasco Gonçalves, dirige, pela TV e Rádio, uma alocução ao povo português na qual denuncia a acção como tendo sido "um golpe contra-revolucionário".
19:00 — Badajoz — O general Spínola, acompanhado de sua mulher, chega à Base Aérea de Talavera la Real.

II — RELAÇÃO DOS ACUSADOS PELO MFA DE ESTAREM ENVOLVIDOS NAS OPERAÇÕES
— Militares
General António Sebastião Ribeiro de Spínola
General António Ferreira de L. Freire Damião
General piloto aviador (Res.) Rui Tavares Monteiro
Brigadeiro Francisco José de Morais
Brigadeiro piloto aviador Jorge Manuel Brochado de Miranda
Coronel piloto aviador Augusto Paulo Moura dos Santos
Coronel piloto aviador Casimiro de Jesus Pintado Abreu Proença
Coronel piloto aviador José Eugénio Ferreira da Naia Velhinho
Coronel piloto aviador (Res.) Orlando José Saraiva Gomes do Amaral
Coronel piloto aviador (Res.) Durval Serrano de Almeida
Coronel pára-quedista Rafael Ferreira Durão
Coronel Carlos José Machado Alves Morgado
Coronel da GNR (Res.) José Martiniano Moreno Gonçalves
Coronel da GNR (Res.) Manuel Pereira Espadinha Milreu
Capitão-de-mar-e-guerra (Res.) Paulo Manuel B. da Costa Santos
Tenente-coronel piloto aviador Carlos António de Quintanilha Reis de Araújo
Tenente-coronel de cavalaria Ricardo Durão
Tenente-coronel João de Almeida Bruno
Tenente-coronel Vasco Augusto da S. Pinto e Simas
Tenente-coronel Alexandre M. G. Dias Lima
Tenente-coronel António da Silva Osório Soares Carneiro
Tenente-coronel da GNR Fernando Alberto Xavier de Brito
Capitão-de-fragata Heitor Prudêncio dos Santos Patrício
Major piloto aviador António Martins Rodrigues
Major piloto aviador António Manuel de Sales Mira Godinho
Major piloto aviador Bernardo Manuel Dinis de Ayala
Major piloto aviador Jaime Tomás Zuquete da Fonseca
Major piloto aviador João Carlos da Silva Arantes e Oliveira
Major piloto aviador Joaquim Manuel Matono Cóias
Major piloto aviador José Augusto Valente de Oliveira Simões
Major piloto aviador César António Duarte Neto Portugal
Major piloto Luís José dos Santos Mesquita
Major FA (Res.) Luís Aires da Câmara Sá Nogueira
Major pára-quedista Joaquim Manuel T. Mira Mensurado
Major pára-quedista José Henrique Catroga Inês
Major pára-quedista Nuno António Bravo Mira Vaz
Major de artilharia Fernando José de Morais Jorge
Major de artilharia Vítor Manuel Silva Marques
Major de cavalaria Manuel Soares Monge
Major de cavalaria Nuno Álvaro de Couto Bastos de Bívar
Major Carlos Alberto da S. Pinto e Simas
Major Manuel Francisco Matoso Ramalho
Major Teotónio José de Carvalho Ribeiro Pereira
Major João António Branco M. da Rosa Garoupa
Major José Eduardo Fernando Sanches Osório
Major da PSP Luís António de Moura Casanova Ferreira
Major da GNR Rui dos Santos Ferreira Fernandes
Major da GNR (Res.) Joaquim Simões Pereira
Major (Ref.) Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos
Capitão-tenente Guilherme Almor de Alpoim Calvão
Capitão-tenente fuzileiro Alberto Rebordão de Brito
Capitão piloto aviador Hermínio de Almeida Oliveira
Capitão piloto aviador João César França Brogueira
Capitão piloto aviador Mário José Bento Jordão
Capitão piloto José Luís Lopo Tuna
Capitão piloto Luís Eduardo de Paiva Faria
Capitão pára-quedista António Joaquim Ramos
Capitão pára-quedista Armando Almeida Martins
Capitão pára-quedista João Carlos Albuquerque Pinto
Capitão pára-quedista João Paulo Valente Santos
Capitão pára-quedista José Augusto Martins
Capitão pára-quedista José Manuel Silva Pinto
Capitão pára-quedista José Manuel Terras Marques
Capitão pára-quedista José Maria da Silva Gonçalves
Capitão pára-quedista Manuel Bação da Costa Lemos
Capitão pára-quedista Sebastião José Pinheiro Martins
Capitão FA Fernando Abel Ferreira
Capitão FA José Neto Pessoa de Amorim Rosa
Capitão de artilharia Carlos Alberto Marques Abreu
Capitão de artilharia Rui Manuel Martins Reis
Capitão de infantaria Virgílio C. Vieira da Luz Varela
Capitão Eduardo Alberto de Veloso e Matos
Capitão Henrique de Morais da Silva Caldas
Capitão Norberto Crisante de Sousa Bernardes
Capitão Armando Ramos
Capitão Carlos Alberto Moreira de Bettencourt
Capitão da GNR Afonso Eduardo de M. Lopes Mateus
Capitão da GNR Armando José Abrantes Viana
Capitão da GNR Fernando José da Câmara Lomelino
Capitão da GNR José de Almeida Coelho
Capitão da GNR QC Armindo Fernandes Pereira
Capitão da GNR QC Henrique Fernando M. M. de C. Valério da Silva
Primeiro-tenente Carlos Alberto Juzarte Rolo
Primeiro-tenente fuzileiro Benjamim Lopes de Abreu
Primeiro-tenente fuzileiro Raul Eugénio D. da Cunha e Silva
Primeiro-tenente José Maria Silva Horta
Primeiro-tenente Nuno Manuel Osório de Castro Barbieri
Tenente piloto Adelino José da Silva Cardoso
Tenente piloto Agostinho José Barbosa do Couto
Tenente piloto Alfredo Jordão Henriques
Tenente piloto Vítor Manuel Sequeira Fróis de Figueiredo
Tenente piloto Fernando Esteves Guerra
Tenente piloto Filipe de Jesus dos Santos
Tenente miliciano piloto aviador Fernando António Félix Lourenço
Tenente miliciano piloto aviador Joaquim António Norte Jacinto
Tenente pára-quedista José Manuel Duarte Fernandes
Tenente pára-quedista Levy da Silva Correia
Tenente FA António Rogério Magalhães da Mota
Tenente de cavalaria QC António Gonçalo Canavarro Teixeira Rebelo
Tenente da GNR Albino Araújo Correia
Tenente da GNR Antero Manuel Rebelo
Tenente da GNR Armando Carlos Alves
Tenente da GNR José Alberto Gomes Rosado Faustino
Tenente da GNR José Manuel Martins Poças
Tenente da GNR Luís Duarte Quaresma de Oliveira e Santos
Tenente miliciano José Alberto Gouveia Barros
Segundo-tenente fuzileiro João Catulos Cansado Corvo
Segundo-tenente fuzileiro Manuel Maria Peralta de Castro Centeno
Segundo-tenente Pedro Henrique Malheiro R. de Meneses
Alferes miliciano piloto aviador Abel Dias Correia
Alferes miliciano piloto aviador Gil José Vaz Afonso
Alferes miliciano piloto aviador Jorge Manuel Costa de Oliveira
Alferes miliciano piloto aviador José Manuel Ribeiro Mendonça
Alferes miliciano piloto aviador Luís Filipe Mateus Palma de Figueiredo
Alferes miliciano piloto aviador Jorge Manuel Pinto de Melo Ramalho
Alferes miliciano piloto aviador José Manuel Belo C. de Mira
Alferes miliciano piloto aviador Flávio Vítor Paulino Llaurent
Alferes piloto Rui Jofre Soares Dias Ferreira
Alferes pára-quedista Eurico da Silva Santos
Alferes pára-quedista Fernando Pires Saraiva
Alferes pára-quedista SG Domingos Francisco Marquinhas Camboias
Alferes pára-quedista SG Joaquim Manuel Paulino
Alferes pára-quedista SG José Valentim Gomes
Alferes da GNR António Farias Carvalho
Aspirante piloto aviador Lourenço Abrantes de Carvalho
Aspirante fuzileiro António Joaquim Areias de Carvalho
Aspirante da Academia Militar António Arnaldo R. B. Lopes Mateus
Aspirante da Academia Militar Mário Rui Correia Gomes
Primeiro-sargento da GNR António Ramos Lopes
Segundo-sargento miliciano piloto Carlos Alberto Gomes da Silva
Segundo-sargento miliciano piloto Bernardo de Sousa e Holstein
Segundo-sargento miliciano piloto António Manuel Carrondo Leitão
Segundo-sargento miliciano piloto Carlos Manuel Leite Moreira
Segundo-sargento miliciano piloto Jaime Manuel de Melo Brandão
Segundo-sargento miliciano piloto José Carlos Cristão Serra
Segundo-sargento miliciano piloto José Manuel Henriques de Campos Carvalho
Segundo-sargento miliciano piloto Adriano Francisco O. Martins Jordão
Segundo-sargento miliciano piloto António José Oliveira Ladeiras
Segundo-sargento miliciano piloto João Henriques Pereira Souto e Silva
Segundo-sargento da GNR António Mendes Monteiro
Segundo-sargento da GNR António Farinha Dionísio Alves
Furriel miliciano piloto António Pedro Costa Quintela Emauz
Furriel miliciano piloto Manuel Rosa Bragança
Furriel miliciano piloto Raul Augusto Duarte Condessa Falcão
Primeiro-cabo da GNR Cândido José Teixeira
Primeiro-cabo da GNR João Quinteres dos Santos
Segundo-cabo da GNR José Florival Gens Gomes
Soldado da GNR António Joaquim Carrilho
Soldado da GNR António Marvanejo Miranda
Soldado da GNR José Anastácio Nunes
Soldado da GNR José Rosendo Prates Calado
Soldado da GNR Martinho de Sousa Merêncio
— Civis
António I. Ribeiro da Cunha
António Maria R. Simões de Almeida
Bernardino José da C. Gonçalves Moreira
Eurico José da Costa Vilar Gomes
Gonçalo Bettencourt Correia e Ávila
João Diogo Alarcão de Carvalho Branco
José Carlos Vilardebó Sommer Champalimaud
José Maria da Costa Vilar Gomes
Miguel Vilardebó Sommer Champalimaud

Referências:

— Jornal Movimento 25 de Abril – Boletim Informativo das Forças Armadas
Edição especial N°16 de 23 de Abril de 1975
Relatório Preliminar sobre o Golpe Contra-Revolucionário de 11 de Março de 1975
Entrevistas:
— Comandante Carlos Alberto Gomes da Silva