A Gabriela era uma rapariga graciosa e
bonita, bem constituída fisicamente, embora um bocado anafada. Era a mais jovem
funcionária do cartório e a primeira mulher a integrar aqueles serviços,
excepção feita à penúltima conservadora que por ali passara, uma velha feia,
seca e má como as cobras que bem podia dormir debaixo de um espigueiro que
ninguém lhe pegava.
Era natural de Oliveira do Douro e foi
ali colocada após realizar um estágio nas Caldas da Rainha. Solteira, foi viver
para um pequeno apartamento situado no mesmo prédio onde o senhor Antoninho
tinha o dele, cuja renda repartia com outra rapariga que trabalhava num
supermercado da localidade.
Apresentava-se sempre ao trabalho com
pontualidade, muito bem disposta e arranjada, exagerando algo no perfume barato
e também, frequentemente, no escasso comprimento da saia, deixando antever umas
pernas grossas e bem torneadas que atraíam a atenção do senhor Antoninho,
muitas vezes surpreendido de olhos fitos naquela magnífica obra da natureza, o
que parecia não a incomodar absolutamente nada.
Desde que ali chegou a menina Gaby não
se cansava de elogiar o saber e o prestígio granjeados pelo senhor Antoninho e
era a ele que recorria sempre que tinha algum assunto mais delicado para
resolver. O senhor Antoninho é um anjo que apareceu no meu caminho, o que seria
de mim sem o senhor Antoninho, não sei como lhe agradecer tudo que tem feito
por mim, o senhor Antoninho isto, o senhor Antoninho aquilo… de tal forma que o
senhor Antoninho até chegava a ficar embaraçado e a corar como um adolescente.
O zeloso funcionário bem tentava ficar
indiferente ao fascínio que a nova colega exercia sobre si mas não era capaz.
Algumas vezes até teve de fazer de conta que ia à casa de banho, apertando bem
o casaco para disfarçar a excitação que o volume do órgão sexual denunciava sob
a braguilha das calças. Voltava depois de passar água fresca pelo rosto e beber
umas goladas, reposta a habitual compostura que lhe granjeara o respeito e
estima do público e demais colegas de trabalho mas a Gabyzinha, a quem aquelas
escapadelas não passaram despercebidas, voltava à carga: o senhor Antoninho não
se sente bem? Veja lá se quer que lhe vá buscar um chazinho! Olhe, precisava da
sua ajuda aqui neste processo…
Tudo aquilo incomodava muito o senhor
Antoninho mas, simultaneamente, também lhe aflorava sentimentos recalcados,
algo que com a Dorinda nunca lhe acontecera a não ser nas vésperas do casamento
e pouco mais. As frequentes erecções que a simples visão daquela mulher lhe
provocava faziam ressuscitar nele o instinto varonil há muito contido e
alimentou intimamente um forte desejo de possuí-la mas a sua inexperiência
nessa matéria obrigava-o a repudiar esses pensamentos pecaminosos dizendo lá
para si que era o demónio a tentá-lo.
E como o demónio não é homem para
desistir dos seus intentos, a oportunidade tão intimamente desejada acabaria
por surgir quando menos era de esperar.
Como já foi referido acima, o senhor
Antoninho possuía um apartamento no prédio onde habitava a sua nova colega de
trabalho. Fora muito útil à família enquanto os filhos frequentaram o ensino
secundário na vila mas depois disso raramente foi ocupado e só por lá passava
uma vez por mês para verificar se estava tudo em ordem e ver o correio, quase
sempre reduzido a contas e montes de publicidade. Foi por essa razão que
naquele dia disse à Dorinda, antes de sair de casa, que chegaria mais tarde uma
vez que iria passar perla casa da vila para ver o correio e aproveitava para
consertar uma persiana que teimava em não fechar convenientemente.
Terminado o expediente, o senhor
Antoninho e a Gaby saíram ao mesmo tempo do local de trabalho e já no exterior
do edifício iam despedir-se como era habitual. Foi então que o senhor Antoninho
se lembrou: ah… hoje vou lá para os seus lados, tenho que fazer umas coisas lá
no apartamento. Não quer uma boleia?
Era bem perto mas já que iam para o
mesmo sítio a Gaby aceitou. Foi rápida a viagem. Como era habitual, o senhor
Antoninho verificou a caixa de correio, no que foi imitado pela colega,
entraram no prédio, subiram os dois lanços de escada e despediram-se
naturalmente, dirigindo-se cada um ao seu destino.
Embrenhado na tarefa de reparar a
persiana avariada, o senhor Antoninho nem deu conta de alguém ter batido à
porta. Mas logo que o telemóvel soou foi atender. Ai, senhor Antoninho, pensei
que já tinha ido embora, estive a bater à porta mas como não atendeu fiquei
aflita. Então? Algum problema? Sim, tenho o esgoto do lava louça a deitar água
para fora e se me pudesse dar um jeito ficar-lhe-ia muito grata…
Sempre solícito, o zeloso funcionário,
homem dos sete ofícios, dirigiu-se de imediato para casa da sua colega com a
caixinha das ferramentas. A Gabriela esperava-o, sorridente, na porta do
pequeno apartamento, mais provocante que nunca. Tinha tomado um refrescante
duche e vestia uma estimulante camiseta de dormir preta, cingida ao portentoso corpo
que parecia agora maior do que no local de trabalho.
Ora então vamos lá ver a avaria, com
licença... A Gabriela fechou a porta e dirigiu-se para a cozinha seguida do
improvisado canalizador que, perante aquela visão e aspirando um inebriante
perfume que emanava daquela mulher, já reagia mais por instinto do que
racionalmente. E quando a Gaby apontou para debaixo do lava-loiça e lhe disse
que o local da avaria ficava ali demorou uns segundos a reagir: ah, sim… ali…
Abaixou-se para averiguar a avaria mas
fazia escuro e precisava deitar-se de costas, como fazem os mecânicos de
automóveis para fazer verificações debaixo dos chassis. Sentou-se no chão,
contorceu-se para ficar em decúbito dorsal e esticou-se espreitando para dentro
do armário. Pediu à Gabriela que abrisse um pouco a torneira para ver onde
ficava a ruptura na canalização.
A rapariga para aceder à torneira abriu
as pernas, desinibida, sobre o peito do senhor Antoninho e… oh céus, que visão
tão perturbadoramente encantadora! A Gabriela estava sem cuecas, perfeitamente
despojada de pêlos púbicos e a fenda vaginal, de onde emergiam, rosados e
húmidos, os pequenos lábios, estava ali na sua presença, esplendorosa. Nada que
se comparasse ao bicho cabeludo, cinzento e por vezes mal cheiroso da Dorinda. A
vulva da Gaby parecia uma rosa a pedir que a colhessem.
O improvisado canalizador conteve-se
estoicamente, apertou a junta do cano que deixava escorrer as águas
provenientes do lava-loiça e levantou-se, compondo o vestuário. Pronto, está
resolvido… Num gesto espontâneo a graciosa Gaby atirou-se-lhe ao pescoço e
exclamou: obrigado, senhor Antoninho, o senhor é um anjo…
Foi o fim da resistência do homem.
Instintivamente abraçou aquele corpo macio e sedutor, passou-lhe a mão pelas
nádegas e beijou-a calorosa e atabalhoadamente. A Gaby correspondeu às carícias
do homem de modo a excitá-lo ainda mais e tudo se precipitou.
Sem perda de tempo, o senhor Antoninho
voltou a rapariga para a bancada, desapertou atarantadamente o cinto, baixou as
calças e, segurando o pénis com a mão direita apontou-o àquela gruta ávida e
desejosa. Mas então surge um problema: o falo que deveria estar túrgido e hirto
como um bastão curvou como se fosse de gelatina e permaneceu flácido e sem
reacção, recusando-se a penetrar na vagina que tão generosamente se lhe
oferecia. O homem bem tentou reanimá-lo com a colaboração da mão da fogosa
jovem mas debalde. Desistiu, envergonhado, pediu mil perdões e preparou-se para
sair, cabisbaixo, apesar do consolo da rapariga que lhe disse para não desanimar,
que compreendia perfeitamente e que podiam tentar mais tarde porque a colega de
casa trabalhava até à meia-noite.
Mas já nada podia mitigar a enorme
frustração do senhor Antoninho. Envergonhado, apressou-se a sair para a rua,
entrou no seu automóvel e começou a circular sem destino, atónito com o que lhe
acabara de acontecer.
Como seria possível? Tantas vezes
tivera de refrear o ímpeto ao seu órgão sexual e agora que surgira a
oportunidade tão desejada negava-se? Seria algum problema da próstata? A velhice
não podia ser, tinha pouco mais de cinquenta anos e sabia de casos de homens
que conseguiam ter uma vida sexual normal até aos oitenta ou noventa, ou mais
ainda… Pelo menos “de língua”, como se dizia naquelas conversas de café…
Parou num local sossegado a caminho de
casa e pôs-se a reflectir sobre o acontecimento. Próstata não deveria ser.
Tinha feito análises clínicas não havia muito tempo e o antigénio específico da
próstata (PSA) apresentava um resultado normal. O que se teria passado? Depois
de muito cogitar concluiu que só poderia ser ansiedade. Na verdade nunca
conhecera outra mulher, a não ser a jovem fula de que se servira quase todo o
pelotão quando fizeram um ataque ao aldeamento onde se acoitavam os “turras”. Por
isso estava tão obcecado com aquela aventura que mais parecia uma virgem na
hora da desfloração. Por fim acabou por se auto convencer que melhor fora
assim. A Dorinda não merecia que lhe pusesse os cornos e, além disso, ainda
estava em bom uso. Foi para casa.